Año III

28 de septiembre de 2023, La Plata, Buenos Aires, Argentina

El poeta es un fingidor. Los heterónimos de Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

que chega a fingir que é dor

a dor que deveras sente

 (Autopsicografía, revista Presença, 1931)

El poeta es un fingidor

finge tan completamente

que hasta finge que es dolor

el dolor que de verdad siente

 Por Luisina Milone

  El hilo que hilvana el número 4 de Metafórica Revista es “la voz”. Sin duda, con la propuesta de esta temática, pensé automáticamente en uno de los emblemas más reconocidos de la poesía portuguesa: Fernando Pessoa. Nacido en Lisboa el 13 de junio de 1888, y fallecido con tan solo 47 años, su poesía es enormemente basta, compleja, maravillosa y revolucionaria. Al momento de su muerte, sólo había publicado un libro llamado “Mensagem” (1934), pero encontramos más de 300 poemas y 130 textos en prosa dispersos en diarios y revistas. La publicación póstuma de su obra, iniciada en 1942, configura alrededor de once volúmenes que incluyen cerca de 1200 poemas y quince tomos de prosa (unas 3.555 páginas en total). Además, debemos contar con los cerca de 25 mil documentos inéditos que se encuentran actualmente en la Biblioteca Nacional de Lisboa.

  Pessoa fue prolífico tanto en la cantidad de poemas escritos como en los múltiples personajes y voces creadas por él dentro de su universo literario. El poeta se desdobló en tres famosos heterónimos -casi tan famosos como él- que son: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos y Ricardo Reis. A diferencia de los seudónimos, los heterónimos designan otras personalidades, inventadas y/o descubiertas por el poeta dentro de su “yo”, o como decía Pessoa: 

“…várias personagens distintas entre sim e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e ideias, os escreveria.”

“… varios personajes distintos entre sí y de mí, esos personajes a los que atribuí varios poemas que no son como yo, en mis sentimientos e ideas, los escribiría.”

  Alberto Caeiro nació en Lisboa y vivió casi toda la vida en el campo. Es el único “poeta de la Naturaleza”, hizo solamente la escuela primaria, es poeta y nada más, un alma simple que pregona la “no filosofía”: se irrita con la metafísica y cualquier simbolismo de la vida. Es el único de los heterónimos de Pessoa que no escribió en prosa.

 Álvaro de Campos nació el 15 de Octubre en Tavira, es ingeniero naval, “el poeta moderno”, whitmaniano, futurista, de sentimientos intensos y muy revoltoso. Como fiel seguidor de Whitman, el principal problema de su poesía es el de la identidad: no sabe quién es, o mejor dicho, falla en lograr una identidad ideal. Expone en largas odas la síntesis de su visión de las cosas e incluso de toda la obra de Fernando Pessoa, que a través de Álvaro parece revelar su propia identidad perdida o jamás construída. Algunos investigadores dicen que es una versión hiperbólica del propio Pessoa. 

  Por último, Ricardo Reis nació en Oporto el 19 de Septiembre de 1887, es médico de profesión, “el poeta neoclásico” escritor de los “Poemas de índole pagana”, nostálgico de la armonía universal, autor de odas epigramáticas, profundo admirador de la cultura clásica y estudioso del griego, el latín y la mitología.

  Este universo da cuenta del carácter teatral o dramático de esa multiplicación del escritor portugués en otros poetas, tan autónomos como es posible imaginar, y tan solidarios entre sí por el hecho de ser todos ellos imaginados por el mismo ser. Además de estos tres heterónimos, Fernando Pessoa creó una legión entera de 72 semi heterónimos, como Bernardo Soares, Antônio Mora, Vicente Guedes, entre otros. La poesía que nace de ese juego permanente de espejos paralelos posee una calidad estética y filosófica única dentro de la poesía portuguesa, cuya riqueza se renueva en cada lectura y permanece vigente aún pasado un siglo de su creación. 

  Gracias Alberto, Álvaro, Ricado, Bernardo, Antônio, Vicente, y a todos los poetas que habitan en Pessoa por regalarnos sus poemas y su voz, su visión de mundo, su “jeito” (manera) de vivir… A continuación, los escucharemos recitar algunos poemas en su portugués nativo, y encontrarán en formato de “espejo” mi traducción libre en español. Espero que les guste.

Retrato de Fernando Pessoa
CANCIONEIRO


Autopsicografía (14/04/1931)

O poeta é um fingidor
que finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
na dor lida sentem bem,
não as duas que ele teve,
mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
gira, a entreter a razão,
esse comboio de corda
que se chama o coração.


NINGÚEM NO PLURAL - Álvaro de Campos

8/1913

QUANDO olho para mim não me percebo. 
Tenho tanto a mania de sentir
que me extravio às vezes ao sair
das própias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
pertenecem ao meu modo de existir,
e eu nunca sei como hei de concluir
as sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propiamente reparei,
se na verdade sinto o que sinto. Eu
serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
nem sei bem se sou eu quem em mim sente.


“Adiamento” 

14/04/1928

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...














RICARDO REIS


17/11/1923

Como se cada beijo
Fora de despedida,
Minha Cloe, beijemo-nos amando.
Talvez que já nos toque
no ombro a mão, que chama
À barca que não vem senão vazia;
e que no mesmo feixe
ata o que muitos fomos
e a alheia soma universal da vida.

10/08/1932

Ninguém a outro ama, senão que ama
o que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro
cura de ser que és, amam-te ou nunca
firme contigo, sofrerás avaro
De penas. 

29/08/1915

Bocas roxas de vinho
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa:

Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida
Como os homens a vivem,
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.


O GUARDADOR DE REBANHOS - Alberto Caeiro


VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
e não do tamanho da minha altura…


Nas cidades a vida é mais pequena
que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casa fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nosso olhos podem dar,
e tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver. 




IX

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
 
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.


XII

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...



 CANCIONERO


Autopsicografía

El poeta es un fingidor
que finge tan completamente
que llega a fingir que es dolor
el dolor que de verdad siente.

Y los que leen lo que escribe,
en la lectura, el dolor lo sienten bien
no los dos que él tuvo
sino sólo dolores que no tienen.

Y así en los raíles de la rueda
gira, entreteniendo la razón
ese tren a cuerda
llamado corazón.


NADIE EN PLURAL - Álvaro de Campos


***

Cuando me miro no me veo.
Tengo tal manía de sentir
que a veces me pierdo al salir
de las propias sensaciones que recibo.

El aire que respiro, este licor que bebo,
son parte de mi modo de existir,
y yo nunca sé cómo podré concluir
las sensaciones que a pesar mío percibo.

Ni siquiera me detuve alguna vez a pensar 
si en realidad siento lo que siento. ¿Yo
seré tal cual me parece a mí? Seré

tal cual me juzgo verdaderamente?
Incluso ante las sensaciones soy un poco 
ateo,
ni siquiera sé bien si soy quien en mí siento.

“Postergación”

***

Pasado mañana, sí, sólo pasado 
mañana…
me tomaré mañana para pensar en pasado mañana,
y así será posible; pero hoy no…
no, hoy nada; hoy no puedo.
La persistencia confusa de mi
subjetividad objetiva,
el sueño de mi vida real, intercalado,
el cansancio anticipado e infinito,
un cansancio de mundos para atrapar un
eléctrico…
esta especie de alma…
sólo pasado mañana…
Hoy quiero prepararme,
quiero prepararme para pensar mañana en el
día siguiente…
Él es decisivo.
Ya tengo el plan trazado; pero no, hoy no
trazo planes…
Mañana es el día de los planes.
Mañana me sentaré en el escritorio para
conquistar el mundo;
pero sólo conquistaré el mundo pasado mañana….
Tengo ganas de llorar,
tengo ganas de llorar mucho de repente,
desde dentro…
No, no quieran saber nada más, es
secreto, no hablo.
Sólo pasado mañana…
Cuando era niño el circo de domingo
me divertía todas las semanas.
Hoy sólo me divierte el circo de domingo de
todas las semanas de mi infancia…
Mi vida triunfará,
todas mis cualidades reales de 
inteligente, leído y práctico
serán convocadas por un panfleto…
Pero para un panfleto de mañana…
Hoy quiero dormir, lo redactaré mañana…
¿Cuál es el espectáculo que me recordará la infancia el día de hoy?
Incluso para comprar las entradas mañana,
que pasado mañana es que está bueno el 
espectáculo…
Antes, no…
Pasado mañana tendré la postura pública que 
mañana estudiaré.
Después de mañana seré finalmente lo que
hoy nunca puedo ser.
Sólo pasado mañana…
Tengo sueño como el frío de un perro callejero,
Tengo mucho sueño.
Mañana te diré las palabras, o pasado mañana…
Sí, tal vez, sólo pasado mañana…
el porvenir…
Sí, el porvenir. 

RICARDO REIS


***
Como si cada beso
fuera de despedida,
Mi Cloe, besémonos amando.
Es probable que ya nos toque
en el hombro la mano, que llame
la barca que no viene sino vacía;
y que en un mismo haz
ata lo que muchos fuimos
y la extraña suma universal de la vida. 


***

Nadie ama a otro, sino que ama
lo que de sí hay en él, o supone.
Que no te pese que no te amen. Intuyen
quien sos, y sos extranjero
cuidá de ser quien sos, te aman, sí, o nunca lo hacen.
Firme contigo, sufrirás avaro
De penas.

***
Bocas rojas de vino,
frentes blancas sobre rosas,
desnudos, brazos antebrazos
dejados sobre la mesa:

tal será, Lídia, el cuadro
en el que quedaremos, mudos,
eternamente plasmados
en la consciencia de los dioses.  


Antes esto que la vida
como los hombres la viven,
llenos de polvo negro
que brota de las calles.

Sólo los dioses socorren
con su ejemplo a aquellos
que nada más pretenden
que fluir con el río de las cosas.


El cuidador de rebaños - Alberto Caeiro


VII

De mi aldea veo cuánto de la tierra se puede ver en el Universo…
Por eso mi aldea es tan grande como
cualquier otra tierra 
porque soy del tamaño de lo que veo
y no del tamaño de mi altura…

En las ciudades la vida es más pequeña
que aquí en mi casa en la cima de esta loma.
En la ciudad las grandes casa cierran la vista con llave,
esconden el horizonte, empujan nuestra
mirada lejos de todo el cielo,
nos vuelven pequeños porque nos sacan lo que
nuestros ojos pueden dar,
y nos vuelven pobres porque nuestra única
riqueza es ver.

IX

Soy cuidador de rebaños.
El rebaño es mis pensamientos
y mis pensamientos son todos
sensaciones.
Pienso con los ojos y con los oídos
y con las manos y los piés
y con la nariz y la boca.
Pensar una flor es verla y olerla
y comer un fruto es saberle el sentido.

Por eso cuando en un día de calor
me siento triste de disfrutarlo tanto,
y me acuesto a lo largo de la hierba,
y cierro los ojos calientes,
siento todo mi cuerpo tendido en la realidad,
Sé la verdad y soy feliz.

XII

Si yo pudiera morder toda la tierra
y sentirla en mi paladar,
y si la tierra fuera una cosa para masticar
sería más feliz por un momento…
Pero no siempre quiero ser feliz.
Para poder ser natural…
no todos los días son de sol,
y la lluvia, cuando hace falta, se pide.
Por eso tomo la infelicidad con la felicidad
naturalmente, como a quien no le extraña
que haya montañas y planicies
y que haya acantilados y hierba…
Lo que es necesario es ser natural y calmo
en la felicidad o en la infelicidad,
sentir como quien ve,
pensar como quien anda,
y cuando se está por morir, recordar que 
el día muere,
y que la puesta de sol es bella y bella es la noche que
aparece…
así es y que así sea.. 




Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *